um blog sobre educação, tecnologia e tudo o que de relaxante podemos fazer na vida

sexta-feira, 28 de março de 2008

Dia Internacional do Teatro


Afinal esta história (como é que se escreve esta coisa? será estória?) dos dias internacionais até tem algum interesse. Ontem fomos ao teatro à borla. NENHURES no TECA. Nenhures é um lugar do teatro. Um lugar em que o cinema já se imiscuiu. A primeira sensação ao olhar para o palco é a de um espaço estranho, um espaço a que dificilmente conseguimos associar alguma coisa. Desde o ranger de chão, inicial, em que as personagens se fixam umas às outras, até à última fala, somos constantemente surpreendidos. Tudo aquilo a que parece nos vamos agarrando, no plano do simbólico, não é completamente desconstruído, mas ganha virtiginosamente novos significados, como os pilares, os pequenos tijolos, o palco, os figurinos e mesmo os próprios personagens, de que é exemplo máximo Tristão. Os registos oscilam entre o drama, a tragédia, a comedia dell'arte, uma linguagem Lynchiana e ainda qualquer coisa da Disney. São várias as faces de nenhures.
Os personagens vão-se metamorfoseando, e um deles chega mesmo a justificar-se dizendo que dentro da metamorfose está contido o amor.
É realmente um desafio. Aconselhamos um café, um jantar bem regado e uma boa companhia pois trata-se de uma grande viagem. Já agora, guardem uns trocos para beber um copo a seguir porque faz todo o sentido e não se esqueçam de voltar para casa... um dia!

Sem comentários:

mulheres-droga

mulheres-droga
Lempicka
No preciso momento em que as vemos pela primeira vez compreendemos, fugazmente, que temos 2 grandes hipóteses: a primeira é tornarmo-nos celibatários e entrarmos para uma comunidade de metafísicos ascetas, e a segunda é uma espécie de go with the flow, que não sabemos muito bem aonde nos vai levar... o mais certo será ao altar numa ilha grega, sem sequer sabermos muito bem como é que lá chegamos.
Os resultados do inquérito que aplicamos aos nossos leitores mais fiéis mostraram que estas pessoas com elevado grau de pureza contribuem para a manutenção de um estado permanente de inspiração, e, apesar de 89% dos inquiridos não ter filiação religiosa, 78% afirma julgar que estas mulheres possam ser pastoras de uma congregação secreta. 24% da nossa amostra pensa, mesmo, que estas mulheres-bomba sejam provavelmente líderes de comunidades secretas originárias no movimento dos Iluminati.

Escrevendo imagens

Escrevendo imagens
Ed Ruscha

Jenny Holzer

a escrita de imagens

"Há no homem o dom perverso da banalização. Estamos condenados a pensar com palavras, a sentir em palavras, se queremos que pelo menos os outros sintam connosco. Mas as palavras são pedras.”

In Aparição, de Virgílio Ferreira


Quando falamos, procuramos, com maior ou menor esforço, a palavra certa, aquela que exprima aquilo queremos dizer. Assim de repente, podemos, por exemplo, dizer que um filme é giro ou podemos arriscar um pouco mais dizendo que é um filme à Spielberg. É claro que isto só resulta se estivermos a falar com alguém que conheça os filmes do realizador americano, ou, realmente, arriscamos estar a falar napolitano com franceses.

Mas, outras vezes, acontece que ao falarmos com alguém somos mal-entendidos, possivelmente porque ambos associam referentes diferentes às palavras ou expressões. Repare-se: perguntei a uma colega o que é uma pessoa excêntrica, e ela respondeu-me que é alguém que sai da normalidade, extravagante, desprendido de algumas das regras de como viver em sociedade...; depois perguntei a um colega o que era para ele um excêntrico, ao que ele respondeu - "é um gajo que ganhou o Euromilhões"!. Outras ocasiões, direccionamos o discurso para a polissemia, para a ambiguidade e, por vezes perde-se o controlo sobre o significado do que dizemos e ouvimos um: "mas estás a falar de quê, mesmo?".
A verdade é que o que está aqui em questão é a denotação e conotação das palavras. Resumidamente, podemos conceber a denotação como a imagem associada a uma determinada palavra. Neste sentido a palavra banco é praticamente inequívoca. Mas não completamente, porque é uma palavra polissémica e, pode, pelo menos, designar tanto a peça de mobiliário que utilizamos para nos sentarmos como a instituição financeira. Mas, neste caso mantemo-nos dentro dos limites da denotação. Por outro lado, a conotação é um mecanismo de significação completamente diferente. Em primeiro lugar é um espaço aberto, o que significa que uma mesma palavra ou expressão pode, com o passar do tempo, adquirir uma infinitude de novas associações. Se mudarmos do banco para a cadeira, talvez já consigamos vislumbrar o que é a denotação. Associamos, dentro da denotação, a cadeira a uma peça de mobiliário ou mesmo a uma disciplina do ensino superior, mas, se nos desviarmos para o domínio da conotação já poderemos estar a pensar em poder, por exemplo. Então aí há um rol de associações latentes desde a cadeira real, ao estado novo e , passando por Kosuth e pela arte conceptual e por aí fora... As palavras estão subordinadas à condição de carregarem consigo todos estes significados.
Mas se as palavras têm estas dimensões, não o terão também as imagens?

Agora, quando associamos palavras ou discursos a imagens estamos a mover-nos em áreas bem mais híbridas. No entanto, a complementaridade e harmonização das duas linguagens faz converger o significado veiculado pela sua utilização conjunta, apesar de o desmultiplicar. A união de palavra ou texto com imagem é uma representação tridimensional de significado: (1) palavra, (2) imagem, (3) palavra+imagem, e cada qual detentora de uma significação específica.
São estes os desafios que se colocam no desenvolvimento de ambientes de aprendizagem (a distância).

exemplos construtivistas

"Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference. "

Robert Frost, The Road Not Taken

O construtivismo parte do princípio que o indivíduo tem um papel activo na construção do seu conhecimento e no desenvolvimento das suas competências. A forma como as pessoas constroem este seu património é tão relevante como as metas que alcançam. A reacção individual aos estímulos do meio vai determinar todo o constructo. Foi, neste sentido, que se começaram a adoptar como instrumentos de avaliação coisas tão flexíveis como os portfólios. O portfólio tem, de facto, todo o potencial conceptual para representar um trajecto individual de aprendizagem.

A imagem que muitas pessoas têm de um portfólio vive da associação ao que é utilizado, de forma generalizada, no ensino artístico. Ou seja, uma compilação coerente de trabalhos que descrevam o seu autor e ilustrem a forma como ele se posiciona no mundo, por um lado, sem descurar, por outro, uma dimensão mais técnica, devidamente contextualizada. Mas para além dos produtos finais, podem incluir-se muitos outros materiais que ilustrem, como disse, o caminho percorrido. Podem incluir recortes de jornais, imagens ou notícias, que chamaram a atenção para determinda questão que foi explorada no ponto x, podem incluir reflexões pessoais que serviram fundamentar as opções tomadas, ou ainda músicas que foram ouvidas durante a sua preparação... todos estes elementos agregados numa lógica de contributos. Poderemos ainda, de outra forma, utilizar a música, como complemento, numa lógica (sensorial) de criar um ambiente mais propício à sua análise , ou mesmo como elemento (cognitivo) potencializador de sentido. No limite podemos encarar o portfólio numa perspectiva ainda mais abrangente e incluir, por exemplo, tudo o que comprove ou demonstre os custos suportados com a execução dessa tarefa... A flexibilidade conceptual depende, portanto, também de uma sensibilidade do seu criador para a finalidade, objectivos a que se propõe e para quem vai analisar o instrumento.

Nesta sequência de ideias, as novas tecnologias e a web abriram novos horizontes e possibilidades para os portfólios. A evolução das aplicações multimédia, no sentido de maior amigabilidade, ou seja, de uma utilização mais intuitiva, permitem, com um grau relativo de facilidade, criar ambientes complexos e extremamente atractivos. E assim chegamos aos e-portfólios, que podem ser concebidos através de inúmeras aplicações, umas on-line e gratuitas e outras em formato de publicação on-line. Podemos ter desde um ficheiro word a uma rede complexa de recursos on-line, a um site, as possibilidades são apenas limitadas pelas necessidades e criatividade de cada um. Uma página no My Space pode ser considerada um portfólio, dependendo dos critérios... mas dá-nos a possibilidade de termos uma conta de e-mail que permite receber retorno sobre o trabalho que realizamos, permite ainda a possibilidade de participar em fóruns, de criar e aderir a comunidades, de gerir imagens, vídeos, música e um blog. Esta é uma possibilidade que bem explorada permite um grau de complexidade elevado e de forma gratuita. É claro que o desafio é tentar personalizar um espaço pré-formatado numa plataforma partilhada por milhões e milhões de pessoas.



A percepção das formas

A percepção das formas
Tabuleiro de xadrez produzido na Bauhaus
As nossas percepções são tão estáveis quanto uma bola de futebol nos pés do Cristiano Ronaldo. A percepção supõe sempre um processo de apropriação sensível. Mas a mecânica deste processo implica que o objecto seja posicionado dentro do quadro de referentes, ou percepções anteriores, de cada um. Ao compararmos a percepção desse objecto a quadros anteriores, transformamo-la numa espiral de significado formada por todo o conjunto de associações que a nossa experiência nos permite fazer. Ao que parece, cada um vê aquilo que projecta do seu eu pessoal e social. Esta é a relação entre a mensagem (realidade) e a sua descodificação (interpretação).
As imagens de Sebastião Salgado tornaram-se polémicas por serem retratos crus, apesar de num registo estético de elevada qualidade, de realidades chocantes para o mundo ocidental que disfruta de um nível geral de vida elevado. Quando as imagens exploram uma dimensão mais poética, apesar de o objecto poder ser a miséria de alguém, provavelmente vai colher as mais variadas percepções e opiniões. O que acontece é que a imagem vive dessa dimensão poética, é a diferença entre a imagem quotidiana que passa despercebida passados um minutos e aquelas que nos deixam um bichinho... únicas, irrepetíveis - por representarem um determinado momento ou objecto de forma quase universal.
Trabalhos como os de Escher deram origem ao aparecimento da chamada Gestalt Theorie, ou Teoria da Forma (global), numa tentativa de sistematizar os recursos de linguagem e composição plástica. Empiricamente a obra de arte é um objecto surpreendente , que nos mobiliza pelo imprevisto, aspecto central do surrealismo, mas para além da complexa linguagem de que se serve o objecto artístico para ter espaço no mundo real, depende de um conjunto de parâmetros que caracterizam algumas das suas possibilidades de leitura.
A teoria da Gestalt assenta em 3 grandes princípios:
(1) campo perceptivo - situação ou enquadramento espácio-temporal, grosso-modo, a envolvência do objecto
(2) estrutura - maneira como estão organizadas as partes do todo, princípio de ordenação que rege o conjunto dos elementos
(3) forma- zona do campo visual que se isola e destaca.